Quero inicialmente agradecer a todos que tem lido os textos, e desejo sinceramente que estejam ajudando de alguma forma na compreensão e superação das crises enfrentadas por vocês, ou de alguém que vocês estão acompanhando, afinal, estas são as minhas principais motivações para escrevê-los. E qualquer dúvida ou pergunta que tiverem podem enviá-la para rafafisioteo@gmail.com , ou na sessão de comentários deste blog.
Na última reflexão, observamos o exemplo de vida do profeta Jeremias para demonstrar que os textos bíblicos expõem, muitas vezes de forma clara, as crises vivenciadas por seus principais personagens que nos inspiram e ensinam a ajudarmos aqueles que nos procuram por auxilio nas situações de crise.
Porém, para ajudarmos de forma efetiva alguém que está em crise, é necessário que busquemos as ferramentas adequadas para tal atividade, e quero propor uma que julgo ser bastante eficiente: o aconselhamento pastoral.
O aconselhamento pastoral é uma dimensão do cuidado pastoral, tendo como referencial a fé cristã, podendo ser exercido tanto por pastores, quanto por pessoas participantes de uma comunidade, e que visa o crescimento saudável pessoal e relacional com Deus, com o próximo e consigo mesmo.
Para o teólogo e pastor alemão Schneider-Harppercht, objetivo do aconselhamento pastoral é:
descobrir com as pessoas em diferentes situações da sua vida e especialmente em conflitos e crises o significado concreto da liberdade cristã dos pecadores cujo o direito de viver e cuja a aceitação vem da graça de Deus.
Tendo em vista que o aconselhamento pastoral se propõe a auxiliar as pessoas a resolverem seus conflitos, na literatura encontram-se diversas abordagens de como intervir nas crises, através do aconselhamento pastoral. Algumas destas possibilidades de intervenção estão presentes nas perspectivas de pastores e teólogos com formação na área da psicologia como Gary Collins, Howard Clinebell e Daniel Schipani, e que podem trazer ferramentas importantes no acompanhamento e suporte de pessoas em crise. Veremos cada uma destas perspectivas, começando pela abordagem de Gary Collins.
Segundo Gary Collins, intervir nas crises é uma forma de prestar uma primeira ajuda emocional imediata a pessoas que sofreram traumas psicológicos e físicos. Devido a sua durabilidade limitada, a crise deve ser tratada desde o seu surgimento. Os objetivos do aconselhamento nesta abordagem são:
1) Ajudar a pessoa a superar o momento agudo da crise e voltar ao seu estado normal. 2) Diminuir o nível de ansiedade, preocupação e outras inseguranças que podem seguir durante a crise e permanecer depois que ela passar. 3) Ensinar técnicas de controle de emergências para que a pessoa possa antever e lidar eficazmente com crises futuras. 4) Ministrar os ensinamentos bíblicos sobre situações de crise, para que a pessoa possa tirar lições dos acontecimentos e amadurecer.
Collins salienta que os conselheiros devem atentar para a individualidade e as especificidades de cada família e pessoa em crise, para que não adotem procedimentos generalistas de intervenção. Ele oferece alguns passos para o conselheiro ajudar pessoas em crise como: fazer contato, reduzir a ansiedade, focalizar a atenção, avaliar os recursos disponíveis, planejar a intervenção, dar esperança e acompanhamento.
Devido às diversas demandas que surgem em um momento de crise, o conselheiro deve orientar a ordenação de prioridades do aconselhado, estimulando-o a identificar objetivamente e a focar nos problemas mais emergenciais, evitando desperdícios de tempo e esforço.
O desempenho do conselheiro no manejo das crises é mais eficiente quando este faz, junto com a pessoa em crise, uma avaliação dos recursos disponíveis para o enfrentamento. Os recursos espirituais relacionam-se com as questões da fé, como a utilização da Bíblia e a confiança na ação do Espírito Santo. Os recursos pessoais são as capacidades intelectuais, habilidades e experiências que devem ser despertadas no aconselhado para ajudá-lo a amadurecer na crise. Os relacionamentos interpessoais dentro da família, igreja, ambiente de trabalho e amigos, são importantes, pois servem como uma rede de apoio e devem ser reativados. Outros recursos adicionais também podem ser utilizados como legais, médicos, psicológicos, financeiros, educacionais, entre outros.
O conselheiro pode incentivar a pessoa a tomar atitudes para resolver a crise, auxiliando-a avaliar os possíveis riscos e resultados. Pode ser útil estabelecer os seguintes passos: saber qual é o problema, fazer uma lista de alternativas de ação, avaliar os resultados da ação realizada, continuar no caminho escolhido ou repetir os passos anteriores.
O conselheiro pode despertar sentido de esperança utilizando os recursos espirituais, por meio da sabedoria bíblica e o conteúdo da mensagem cristã, que como um todo, está permeado de esperança, motivando a pessoa a aprofundar no seu relacionamento com Deus.
Outras formas de despertar esperança é contestar a lógica derrotista do aconselhado, apontando evidências otimistas quanto ao seu futuro; e manter a pessoa em atividade e em movimento para dar-lhe a sensação de que algo está sendo feito.
Para Collins, o acompanhamento de uma crise por meio de sessões de aconselhamento geralmente é breve, porém, é bom que o conselheiro continue mantendo contato por telefonemas ou visitas, sobretudo em datas comemorativas, como nos aniversários, ajudando a evitar crises recorrentes.
O modelo de Collins para intervenção em casos de crises preconiza aspectos fundamentais na relação de ajuda entre conselheiro e o aconselhado como o estímulo a ordenação de prioridades, avaliação dos recursos pessoais, e o tratamento de questões relativas a fé e a espiritualidade. Todavia, observa-se a ausência neste modelo de uma discussão mais aprofundada sobre a necessidade de verificar aspectos relevantes do contexto sócio-econômico e cultural das pessoas ou famílias em crise, uma vez que a realidade latino-americana tem as suas particularidades e diferenças do contexto norte-americano, aonde este modelo tem sua origem. Porém, esta crítica não diminui as contribuições deste modelo de aconselhamento, e como veremos nas próximas reflexões, existem outros os modelos que discutem melhor a relação entre crises e o contexto sócio-econômico e cultural.
Um comentário:
Rafa, fico feliz com seu crescimento tanto espiritual quanto profissional e que não perca de vista a oportunidade que está adquirindo de ser um conselheiro, um ajudador em um tempo que cada vez se torna difícil!
Deus lhe abençõe!!!
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